sábado, 10 de março de 2012

Pescarias estranhas (locas) - Jundiás pastando no campo!

Quando mudei para Viamão - RS, uma das primeiras coisas que fiz foi fazer amizades para melhor me ambientar. Nesse mister, além da política de boa vizinhança, procurava parcerias para pescarias. Ao conversar com um e outro, começaram a surgir estórias - assim as julgava - de pescarias de jundiás que literalmente pastavam no campo! Nenhuma outra explicação de quando ocorria isso. Até que um amigo que morava nas terras baixas de arroz, bem perto da Lagoa dos Patos, conseguiu me explicar porque ocorria. Parece orquestrado, os jundiás percebendo-se das condições atmosféricas propícias - mudança de temperatura, pressão atmosférica que precede tempestades e a própria chuva, reúnem-se na foz de algum riacho ou canal. Com a chuva torrencial, que normalmente ocorre no verão, começam a subir aos mangotes procurando alguma entrada d'água ligada com os canais como se soubessem que os campos, baixos, estariam alagados. Achadas tratam logo de subir ficando vulneráveis aos predadores. Os homens com facões e paus os graxains com suas patas e bocas. Mesmo assim, achando verossímil a estória, queria participar de uma para poder entender melhor.
Certa feita em Fevereiro, não fixei o ano mas era na década de noventa, precisei comprar, num sábado à tarde, um remédio para meu guaipeca Fumaça. A agro-veterinária estava localizada em um trevo de ligação entre a RS40 e RS110 e para lá me dirigi a pé para fazer um pouco de exercício. Feita a compra, comecei o caminho de volta. Andei uns cem metros e o vento fresco de chuva me alertou. Olhando para o Sul, vi uma nuvem preta, como um paredão, avançando célere sobre os campos e coxilhas. Apressei o passo. Quanto mais apressava, mais a nuvem chegava perto. Já sentia o cheiro de chuva quando corri  os cinquenta metros que me separavam de casa. Quando pisei na área na frente da casa, já tinha sido respingado com alguma água.
E o Céu desandou! Choveu chuva grossa por mais de três horas com as águas correndo na rua confirmando o verdadeiro Dilúvio! À tardinha amainou e parou por completo como toda chuva de verão!
No outro dia sol forte de novo resolvi assar uma carninha. Fogo feito, carne no fogo, caipirinha rolando e o meu vizinho da direita - o pezão - trouxe um espeto para partilhar do meu fogo. Estávamos entretidos com nossos afazeres, quando um vizinho, o Abreu, proprietário de uma gleba de terra à beira da Lagoa dos Patos, veio até nós para nos dar um recado do vizinho da esquerda, o Miguel. Ele estava pescando quando deu a chuvarada e mandou nos dizer que "os jundiás estavam pastando no campo" e era para nós irmos lá. Olhamos um para o outro e resolvemos almoçar, tirar uma sesta e lá pelas três horas da tarde seguimos para a fazenda do vizinho.
As crianças levaram uns lambarizeiros e minhocas. Nós levamos duas tarrafas profissionais com malhas apropriadas - grandes -.
Chegando lá o Miguel nos mostrou uma bacia de folha antiga, cheia de filés de jundiá na salga. O miguel disse que não havia mais jundiás no campo, já que a água escoou para o canal. Fomos para a taipa do canal  que vinha da lagoa. O Pezão mais apressado, armou a tarrafa e deu a primeira tarrafada. Quando começou a recolher, gritou que teria que entrar n'água para não perder os peixes.  Veio mais de dez jundiás graúdos.
Comecei também a tarrafar e em pouco tempo, olhando para trás, verifiquei que não precisávamos mais do que aquilo. Uns vinte montes de jundiás ao longo da taipa. Gritei para o Pezão que para mim chegava, não queria mais pescar e que só aqueles, nos daria trabalho para limpá-los. Iríamos até a madrugada neste mister! Minha esposa quis pescar e eu peguei um dos lambarizeiros, sentei perto de uma caída d'água onde os lambaris estavam saltando na grama, peguei um e isquei. Foi só largar nágua e a linha correr. Na brincadeira, ela capturou seis jundiás de bom tamanho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário