quinta-feira, 16 de maio de 2013

A cruzeirinha criada como mascote!




Meu pai foi um colono em Santa Rosa. Tinha  um açude na propriedade feito por ele. Abaixo (à jusante) tinha uma lavourinha de arroz.  Com o tempo, o açude estava povoado de traíras e jundiás.  No mato, uma touceira de bambu fornecia varas para diversas utilidades, desde travessas para o rancho até caniços. Resolvido a  pescar, escolheu e cortou um caniço de mais ou menos cinco metros e deixou-o secando na sombra do mato.
Seis meses antes disso, quando cruzava a lavourinha de arroz encontrou uma cruzeira morta. Olhou em volta procurando, pois que sabia quando uma está morta o companheiro ou a companheira estará por perto. Nada encontrou. Andou mais uns metros e deu de cara com uma cruzeira filhotinha.  Ficou com pena. Levou a mão e ela se enrodilhou até facilitando ele pegá-la e colocá-la no bolso. Levou pra casa, caçava ratinho e passarinho e foi alimentando ela. Quando chegava ao rancho, a primeira que vinha encontrá-lo era a cruzeira que de pequena já não tinha mais nada.
O tempo passou e chegou à época do causo. Já tinha se passado mais de semana e o caniço já estava seco.  De volta para o rancho, caniço na mão, enxada no ombro, abriu a cancelinha que dava para o pátio do rancho. Quem estava esperando para dar o bote?  A cruzeira. Meu pai argumentou: -Mas então, te salvei a vida, te alimentei, cuidei de ti e queres me atacar? Saiu lágrimas dos olhos, mas a cruzeira não desistiu, deu o bote! Mais rápido que ela meu pai levou o caniço e se protegeu com ele.  Os dentes da cruzeira pegaram na base do caniço e ela ficou presa. Com a enxada meu pai matou a cruzeira! Ainda sentido, enterrou a ingrata no pátio, largou a enxada e o caniço encostados ao lado a porta do rancho e entrou.
No outro dia bem cedinho, iria à pesca. Não tinha raiado o sol ainda quando levantou, fez um farnel e saiu para rumar ao açude.
Abriu a porta do rancho e automaticamente levou a mão ao caniço. Não conseguiu levantá-lo! Estranhando, olhou para ele e se deu conta: com o veneno da cobra o caniço inchou muito, ficando com a aparência e o peso de um toco de angico...
Verdade Dom Joel, verdade...

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