domingo, 2 de outubro de 2011

HOMENAGEM AOS RIOS QUE ME ENSINARAM A PESCAR III







Na terceira postagem desta série, a minha homenagem ao Rio Potiribú ou Rio da Ponte como era mais conhecido. Nossas áreas de pesca eram o Angico, o Watslawich e  o trecho compreendido entre a Usina da Sede ou Usina Velha até a ponte da estrada que vai de Ijuí até a fonte Ijuí. A que conhecíamos mais era o trecho da Usina Velha até a Ponte que deu o nome popular ao velho rio. Quando digo conhecíamos é porque realmente conhecíamos todos os seus recantos, sabíamos o que pescar em cada cantinho do nosso rio e em todas as épocas do ano. Quando voltávamos das pescarias o pessoal não acreditava que era no Potiribú que tínhamos pescado. Afirmavam que lá não tinha mais peixe! A história se repetia pela terceira vez! Deixarei para postar depois algumas pescarias que se destacaram em minha memória que desmentiam todos que afirmavam a morte da fauna ictiológica do nosso rio.
Falando na fauna, era um leque muito grande que pescávamos: Traíras, Jundiás, Cipós, Lambaris, Carás, Joaninhas, Mandins, cascudos, violas e  Muçuns. Nunca pescamos Voga ou Pintado mas ouvíamos falar neles. Na década de 50  tentaram introduzir a criação de peixes no município de Ijuí e o peixe escolhido foi a carpa cabeçuda que se espalhou rapidamente em todos os rios da região (Potiribú, Conceição e Ijuí) e uma vez tarrafiei uma de mais ou menos 8 kg. Havia um outro peixe que raramente pegávamos. Nós o chamávamos de peixe espada, porém não tenho certeza que seja esse. A cabeça parecida com a do Cará porém o corpo ia afinando até se tornar um rabinho redondo. A memória falha quando tento lembrar a nadadeira que percorria todo corpo se era dorsal ou anal. Lembro que tinha poucas vísceras logo após a cabeça, no ventre. Tinha escamas. Os exemplares que peguei tinham mais ou menos 1 cm de largura uns 4 ou cinco de altura e até a ponta do rabo, 20 a 30 cm. Nunca ouvi falar em Dourado ou Surubi, peixes que de acordo com meu pai, existiam no Rio Uruguai.

"Ori Cavinato recorda, com tristeza, um episódio que vivenciou numa ocasião em que foi pescar no rio. Constatou uma grande quantidade de peixes mortos. Desde então se interessou em procurar descobrir as causas daquela mortandade de peixes.
Constatou que o grande problema começou a partir de 1960, com a mecanização da agricultura e o uso de agrotóxicos. A partir daí, muitos pequenos agricultores começaram a abandonar suas terras e migrar com suas famílias para a cidade."
Mas mesmo com esses problemas sazonais, ainda era piscoso pois foi a partir desta época, que mais mocinho, juntamente com meu irmão Samuel e o primo Jair (o Bilico) (os três mosqueteiros) primeiro a pé, depois a bordo de uma lambreta, íamos todos Sábados à tarde, mochila nas costas, acampar no terreno onde ficavam as bombas da Corsan. 
Isso até 1969 quando fui de mala e cuia para Porto Alegre, vencer a Selva de Pedra...
Na década de 70, recebo uma carta de meu irmão. Estranhei pois ele não era de me escrever nem ligar. Um pouco apreensivos abri o envelope e me deparei com uma foto do Correio Serrano tirada de cima da ponte com uma anotação: "Olha o que fizeram com o nosso rio!".
Não tinha um metro quadrado que não estivesse ocupado por peixes mortos de todos os tamanhos e espécies. Fiquei estático e as lágrimas rolaram dos meus olhos. Os colegas da Siderúrgica Riograndense mais próximos notaram e quiseram saber o que acontecia. Lhes expliquei que a história novamente se repetia numa escala infinitamente superior às outras. Nas grandes mídias da época nenhuma linha. Era assunto paroquial e como vivíamos sob um regime ditatorial, não seria divulgado mesmo. No outro lado do rio em frente a fazenda do IMERAB, construiram um laticínio que na primeira descarga de resíduos, matou toda a fauna ictiológica do meu Rio Potiribú. Após um acidente assim dificilmente a fauna recupera em seu esplendor máximo. Sei que andam fazendo tentativas de estudo da bacia do Rio Potiribú, tanto no tocante ao assoreamento como da fauna.
Que Deus tenha pena dos culpados.

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