quinta-feira, 29 de setembro de 2011

HOMENAGEM AOS RIOS QUE ME ENSINARAM A PESCAR II

Os riachos que me ensinaram os mais rudes ensinamentos da captura de peixes já estavam canalizados e ainda assim serviam aos propósitos da gurizada que gostava de comer um peixinho frito! Ainda usávamos caniços pequenos e sacos de aniagem para as nossas aventuras. Os anzóis eram comprados ou feitos de alfinetes. As linhas já eram de monofilamento de nylon (um tipo de plástico) ou de algodão (barbantinho fino que costurava a "boca" dos sacos de farinha e açúcar também de algodão). As varinhas tinham no máximo um metro de comprimento, maiores que isso, ficavam incomodas e tínhamos que pescar de longe sem enxergar, muitas vezes, a linha. Essas eram as tralhas de pesca e com elas enchíamos as fieiras. Novamente o descrédito dos adultos das nossas famílias, dos industriais e das autoridades quanto a existir peixes nos riachos, levaram a uma mortandade enorme de peixes que nos fizeram chorar às suas margens! A rua onde morava tem o sentido Leste/Oeste e iniciava (naquele tempo) na faixa velha que ia para Alto da União/Cruz Alta. Depois abriram a outra margem dando continuação. Pois bem, na esquina de baixo da primeira quadra, construíram um complexo que depois ficamos sabendo que era um laticínio (nós chamávamos de fábrica de manteiga). Desse tempo, lembro um caso interessante que presenciei: em um dia de verão, sol forte, calor de fritar ovo em capota de carro (um dito nosso), no lado Leste formou-se uma tempestade que vinha em uma velocidade boa e logo nos alcançaria. A gurizada reuniu-se para tomar  banho de chuva e assim aplacar o nosso calor! Decepção! Como uma parede d'água veio até a esquina da Fábrica de Manteiga e como se esperasse passar algum carro, parou. Uma imagem formidável da bomba d'água parada na esquina e os filamentos de água marrom escura escorrendo por nossa rua mas nos deixando na mão a duas quadras de distância. Lembro também que íamos pegar, com uma leiteira ou caneca de lata de azeite quadrada, fazendo concorrência com a gurizada da Rua do Aperto, um pouco de soro de leite geladinho, sobra da fabricação de queijo, que o pessoal da fábrica distribuía gratuitamente. Era uma delícia!
Antes de tudo isso, a grande tragédia. Na primeira descarga de dejetos, o riacho de perto da minha casa coalhou-se de peixes de todos os tamanhos, branqueando com suas barrigas, as águas barrentas. A memória não me falha ao dizer que ainda me vêm as imagens do acontecido naquele dia. Lambaris, jundiás, joaninhas, cipós, carás e traíras lutando para viver num abre-boca de dar dó! Uma perna do Y estava irremediavelmente morta. era a mais curtinha das duas, nenhum peixe escapou.
A morte da outra perna foi muito bem descrita por um sobrinho meu em um post seu no Blog do Marcão e num comentário que colocou na primeira homenagem que postei:
Pescaria
http://gauchopescador.blogspot.com/search/label/pescaria

Marcos disse...

O riacho que passa ao lado do estádio do São Luiz, nasce em uma vertente no clube Recreativa e passa pelo Clube Aquático Tiarajú. Minhas pescarias iam do Tiarajú pra cima até a Recreativa. Quando eu já era adolescente, começaram a ligar o esgoto na sanga e aí danou-se.
Ná década de 90 houve um derrame de gasolina na Petrobras, a gasolina desceu pelo esgoto até a sanga e, surpresa, mesmo completamente poluído fiquei impressionado com o tamanho dos jundiás que morreram e que viviam na sanga. Ninguém mais pesca lá.

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