terça-feira, 13 de setembro de 2011

HOMENAGEM AOS RIOS QUE ME ENSINARAM A PESCAR

Com quarenta anos de atraso, presto meu tributo aos rios de minha infância e juventude onde engatinhei na arte de pescar. Digo arte pois na natureza é necessário muitos e muitos anos de experiência para que alguém se intitule pescador na acepção da palavra. Não falo de ir a um pesque-pague onde parece que os peixes são ensinados a divertir os pescadores que recebem tudo, inclusive instruções, para pescá-los. Sem falar da alta densidade nos lagos para que, deixando-os sem alimentação, eles virarem presa fácil! Saber reconhecer os habitats dos diversos tipos de peixes nativos, seus costumes no inverno ou no verão. O tipo de cada equipamento, as várias armadilhas que podem ser usadas, o modo que o peixe "belisca" ou "corre". Conhecer as leis que envolvem a pesca. Hoje, apesar de bem experiente, ainda não conheço tudo. O gosto pela pesca é ainda o maior mote para os sucessos que tenho em pescarias. Uma espécie de premonição de onde está o peixe. Isso que tentarei colocar nas postagens deste blog.  Mas o que me move nesta primeira  postagem é o que tentarei descrever em uma trilogia que começa com :

O DESENVOLVIMENTO DAS CIDADES COMO DESASTRE ECOLÓGICO

Há em Ijuí vários riachos que cortam a cidade e que hoje não mais consegue-se visualizar. Um deles tinha a nascente na antiga Rua do Aperto, descia até cortar a antiga Rua do Quartel (Mal. Mallet) quase com esquina com Rua Professora Luiza Couto  e ainda enviesado em confronto com as quadras chega no estádio
19 de Outubro onde se encontra com outro riacho que tem a nascente no Clube Aquático Tiaraju. Ao norte da cidade o novo riacho se encontra com o riacho do Curtume. Naquele tempo a partir daí não dava nem para chegar perto. Isso a partir de uma serraria atrás da SOGI nos potreiros dos Storch.Assim situado posso dizer onde morava: a trinta metros da esquina da Marechal Mallet com a Luiza Couto. Nessa esquina, o riacho fazia uma curva e seguia margeando a Luiza Couto em direção ao Leste. Devido aos constantes alagamentos, foi feito a canalização dos riachos com paredes de pedra de construção e pontes de concreto (antes eram de madeira).  no "meu" riacho começou em uma quadra de distancia de casa e no outro, do Tiarajú, até as terras do Dr. Leão. Na altura do Estádio, juntava-se e ia terminar perto da Pedreira Velha. Onde moravam os Bohrer. Dos seis ou sete aos dez anos foi ali que pescávamos, pois aos miúdos não era dada a liberdade de ir ao Grande Rio da Ponte ou Potiribú. Quando conseguíamos comprar algum anzol lambarizeiro, era uma festa. Os outros piás ficavam babando e nos acompanhavam na "pescaria". Era jundiazinho, cipós, lambaris, porquinhos (carás) e trairinhas que iam para uma vareta que chamávamos de fieira. Quando não tínhamos anzóis comprados e nem linha de pesca, improvisávamos com alfinetes e barbante de algodão que costurava a "boca" dos sacos de farinha de trigo. As iscas eram variadas, a mais usada eram minhocas abundantes em qualquer parte dos nossos terrenos. Mas pequenos gafanhotos verdes também serviam. Bolinhas de pão, arroz cozido, pedacinhos de carne, tripas de galinha também davam bons resultados. Com o riacho baixo, quando conseguíamos sacos de aniagem que eram usados para embalar feijão ou milho, fechávamos um lugar estreitinho do riacho com a boca aberta do saco. Outros vinham, a favor da correnteza, batendo com paus e com os pés espantando os peixes para dentro da armadilha. Não era tão gostoso como pescar com pequenas varinhas feitas de bambu (taquara) ou algum galho fino e reto de alguma árvore. Minha mãe não incentivava, mas deixava ir pescar e disponibilizava a fritura dos peixinhos em sua cozinha, ao contrário das outras mães. Devido a isso eu era presença constante em todas as pescarias.
Mas diante desse quadro, onde o Desastre? Evidentemente o traçado do riacho foi alterado pois foi feito em linha reta para melhor escoamento da água. Nas curvas que ficaram cheias d'água, os peixes que ali estavam, morreram por falta de oxigenação da água, formando um tapete de barrigas brancas que não me saem da lembrança! Meu irmão tentou salvar alguns jundiás e traíras colocando-os no tanque de lavar roupa com água do poço, mas não adiantou. Nós dizíamos que tinha muito peixe mas os velhos não nos acreditavam... Esses que o mano tentou salvar eram grandes. Atribuo, não tenho certeza, ao tempo de piracema, pois nunca tínhamos visto peixes tão grandes.
Continuamos por um bom tempo pescando ainda nos mesmos moldes nos dois riachos, mas abaixo do Estádio não dava mais devido as ligações de esgoto que começaram a ser feitas. Mais crescidinho já me aventurava no riacho do Tiarajú, mas então...

3 comentários:

  1. O riacho que passa ao lado do estádio do São Luiz, nasce em uma vertente no clube Recreativa e passa pelo Clube Aquático Tiarajú. Minhas pescarias iam do Tiarajú pra cima até a Recreativa. Quando eu já era adolescente, começaram a ligar o esgoto na sanga e aí danou-se.
    Ná década de 90 houve um derrame de gasolina na Petrobras, a gasolina desceu pelo esgoto até a sanga e, surpresa, mesmo completamente poluído fiquei impressionado com o tamanho dos jundiás que morreram e que viviam na sanga. Ninguém mais pesca lá.

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  2. Quando saí de Ijuí, recém estavam cogitando de fazer a Recreativa. Eu não lembrava mais! foi bom tu lembrares. No teu tempo a pesca estava mais restrita ainda!

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  3. Complementando, os peixes de couro resistem mais à poluição de orgânicos assim como os cascudos. Já os de escamas são os primeiros a desaparecerem

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